Portugal
Comboio histórico do Vouga
O João é apaixonado por comboios – conhece todas as carruagens e bitolas e tem na sua wishlist várias viagens pelo mundo para explorar linhas de caminho de ferro.
Este verão decidimos começar por uma viagem curta e perto de casa – o Comboio Histórico do Vouga – um de apenas dois comboios históricos em Portugal.
O comboio histórico do Vouga conhecido também por Vouguinha, circula entre Aveiro e Macinhata do Vouga, aos sábados, entre Junho e Outubro. Com 5 carruagens dos primeiros anos do século XX rebocadas por uma locomotiva a diesel, o comboio utiliza a única linha de via estreita em operação em Portugal, com apenas 1 metro entre os carris. A viagem tem um custo de €35/pessoa (ida e volta) e inclui entrada no Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga e paragem em Águeda para apreciar a “AgitÁgueda” e o projeto “Umbrella Sky”, nas datas programadas de cada evento.
A viagem de comboio tem uma duração de 1 hora e 10 minutos entre a estação de Aveiro e Macinhata do Vouga, mas conte com uma tarde inteira de passeio:
Ida
Volta
Sonhos Cor-de-Rosa
Sendo uma viagem curta para quem parte do Porto, optámos por não pernoitar em Aveiro. Há várias ligações a Aveiro durante a manhã, por isso recomendamos que, se possível, viva em pleno esta aventura e não utilize outro meio de transporte para além do comboio, avaliando os horários dos comboios no seu ponto de partida.
Caso venha de longe, ou pretenda aproveitar para jantar e visitar Aveiro, saiba que mediante apresentação de bilhete do Comboio Histórico do Vouga, beneficia de um desconto de 15% sobre a melhor tarifa do dia no Meliã Ria Aveiro Hotel & Spa.
Na minha mala levo
O interior do país pode ser bastante quente no verão, e o comboio não tem ar condicionado. Recomendamos que leve chapéu, roupa leve, água, fruta e alguns snacks. O calçado deve ser confortável para poder entrar e sair das carruagens com facilidade e percorrer as ruas de Águeda no tempo livre.
Pernas para que te quero
Chegámos a Aveiro por volta do meio-dia e aproveitámos para calcorrear a zona dos canais, repleta de gente, turistas maravilhados com esta “Veneza Portuguesa” e pais aliviados por terem espaço para os filhos correrem à vontade.
Começámos na antiga fábrica Jerónimo Pereira Campos, hoje recuperada e transformada num Centro de Congressos e caminhámos ao longo do canal em direção ao Fórum Aveiro, um shopping ao ar livre, onde pode encontrar a maioria das marcas de street fashion.
As pontes sobre os canais são muito concorridas para tirar fotografias e dizer adeus aos moliceiros que passam, carregados de turistas bem-dispostos. Na ponte Laços da Amizade fitinhas coloridas assinalam desejos e momentos especiais de quem por ali passa.
Entrámos no Mercado Manuel Firmino, que mantém como função principal a venda de flores, frutas e legumes, sendo a parte exterior ocupada maioritariamente por restaurantes e por uma loja da Costa Nova. Em breve, esta loja terá também o seu próprio café. Em busca de uma alternativa para adoçar a boca, dirigimo-nos a pé, pela Avenida Dr. Lourenço Peixinho, até à estação, fazendo uma paragem técnica para café na Tricana de Aveiro. Esta confeitaria e guest house inaugurada em 1927, situa-se num edifício e local histórico da cidade com uma arquitetura encantadora. Não deixe de provar os barquinhos de ovos moles.
Dirigimo-nos então à linha 8, de onde partia o nosso comboio – a energia na plataforma era vibrante, com as carruagens cheias de turistas entusiasmados, maioritariamente nacionais. Algumas vendedoras, carregadas com as suas cestas, acenavam na plataforma, e desejavam boa viagem, ajudando-nos a entrar no espírito desta quase recriação histórica.
Mas nada nos prepara para este mergulho no passado como o acenar generoso das pessoas por quem o comboio passa. Desde a saída de Aveiro, até Macinhata do Vouga, quase todos aqueles com quem nos cruzamos – nas soleiras das suas portas, terraços soalheiros, cordas da roupa ou passagens de nível – acenam com vigor e um sorriso no rosto, a quem passa à sua porta. Quem vai no comboio, empoleirado nas janelas de cabeça de fora, começa por dizer adeus com cautela, receando esta proximidade tão pouco cultivada nos dias que correm. Mas não são precisos muitos quilómetros para perceberemos que esta linha aproxima quem por ali mora de quem por ali passa – e que isso traz uma consolação esquecida a todos.
À chegada a Macinhata do Vouga, somos recebidos pelo grupo folclórico que canta o “Apita o Comboio” e outras músicas populares. As pessoas saem do comboio na ânsia de esticar as pernas mas são rapidamente abalroadas pelas personagens que se juntam na plataforma – a senhora rica que se queixa do calor, a criada que a assiste, a senhora que traz o milho à cabeça, entre outras. O grupo de teatro de Macinhata do Vouga junta-se assim ao Museu Ferroviário para dar cor a esta recriação histórica, que continua dentro do museu, onde a visita é guiada pelo chefe da estação.
De notar que a entrada no museu se faz em grupos, pelo que pode ter de aguardar a sua vez na fila, parte dela ao sol. Banquinhas variadas no exterior do Museu (que fica em paralelo, mesmo atrás da estação) oferecem distração durante algum tempo, vendendo água, sumos e cerveja, além de petiscos como rissóis e bolinhos de bacalhau. Recomendamos que aproveite o início da paragem para percorrer todas as carruagens, que são diferentes entre si, e tirar algumas fotografias, juntando-se ao fundo da fila quando já só faltar 1 ou 2 grupos.
A visita ao Museu começa com uma performance curta do Grupo de Teatro de Macinhata do Vouga, que se encontra na sala de espera da estação para comprar os bilhetes. Bancos, relógios, petardos e bilhetes reais, juntam-se a outras relíquias que tornam o cenário muito próximo do que terá sido em tempos. Na segunda parte do museu, temos oportunidade de ver diversos exemplares de carruagens e locomotivas, guardados ao longo dos anos – algumas das mais antigas datam da I Guerra Mundial, e foram oferecidas pela Alemanha como forma de recompensa depois de ter perdido a guerra. Entre as carruagens, destacam-se a “Ambulância Postal” e as duas automotoras a gasolina, transformadas localmente a partir de autocarros.
Depois de cerca de uma hora e meia em Macinhata, inicia-se a viagem de regresso, dividida em duas etapas:
Na primeira parte da viagem de regresso, representantes do Município percorrem as carruagens a informar que, à chegada a Águeda, acompanharão aqueles que pretendam ir ao centro da cidade, passando por algumas obras de arte urbana. A paragem em Águeda tem uma duração de uma hora e meia, sendo o percurso entre a estação e o centro de cerca de 10 minutos incluindo paragens na “Salamandra” de Bordalo II (R. Dr. Adolfo Portela 73, 3750-119 Águeda) e na instalação “ANA 00:00,02” do artista Dourone.
Ao chegar ao centro de Águeda, há tempo de sobra para percorrer as famosas ruas cobertas de guarda-chuvas coloridos. A maioria dos que vêm no comboio param ao início da Rua Luis de Camões, para se refrescarem no “Rei del Gelato” mas nós optámos por evitar a confusão das filas e seguir a pé até ao posto de Turismo de Águeda, no Largo Dr. Elísio Sucena, passando pela Praça da República e subindo a Rua Vasco da Gama, até se cruzar com a Rua José Maria Veloso onde voltámos ao ponto inicial.
Mais uma voltinha, e fizemos uma paragem para uma cerveja e uns tremoços na esplanada do 20 Age (Rua 5 de Outubro): o tempo já era curto, mas a carta de Gelados de Portugal e a simpatia do atendimento chamaram-nos a atenção.
O comboio partiu de Águeda pontualmente às 18:18, chegando a Aveiro pelas 19:00.
Na minha mala trago
De Macinhata do Vouga trouxemos 1 íman com uma locomotiva de madeira, feito à mão, um bilhete antigo e o livro “Regresso ao Passado” – retrato histórico da Linha do Vouga, numa edição do TEMA – Teatro Espontâneo de Macinhata.
Ficámos desapontados com o comércio em Águeda – pareceu-nos mal aproveitada a inundação de turistas que todos os sábados por ali passa, sem que lhes seja dado um mapa, deambulando por ruas de lojas fechadas. Há, é certo, uma abundância de ímanes de guarda-chuvas, e de outros itens alusivos, mas nada digno de nota.
Foi um dia em cheio, que recomendamos a todos os fãs e curiosos dos comboios. Como dizia o João com satisfação no final do dia “O comboio está vivo e recomenda-se!”.
Como chegar
Francisca Peixoto
A Francisca é uma amante de viagens, que combina o seu talento natural para o planeamento com uma rigorosa atenção aos detalhes, não deixa nada ao acaso nas nossas aventuras. Seja a criar o itinerário perfeito, a descobrir lugares maravilhosos ou a procurar a melhor experiência culinária, a organização impecável de Francisca torna todas as nossas viagens inesquecíveis. Quando não está a viajar, gosta de passar tempo com a familia e amigos. É a anfitriã perfeita, adora juntar pessoas e sabe como proporcionar jantares memoráveis. É super ocupada, por isso desafio-te a tentar marcar algo na sua agenda sem pelo menos uma semana de antecedência. Acredita em mim, não vai ser uma tarefa fácil!